Nick Drake: entre a depressão e o perfeccionismo

A introspecção pode ser uma grande aliada no processo criativo, mas em doses extremas pode atrapalhar qualquer um. Dos exemplos mais emblemáticos disso é do compositor de folk Nicholas Rodney Drake, mais conhecido por Nick Drake – não confundir com outro Nick, o Nick Cave, cuja maior diferença é que este está vivão e vivendo, com álbum novo este ano.

Outra diferença: Drake era britânico; Cave é australiano. Mas o principal contraste entre os dois é que Nick Drake ficou muito mais conhecido após breves 26 anos de vida. Segundo contam, o laudo médico indicou uma overdose de remédios para depressão, o que deu fim a uma carreira com três discos lançados de 1969 a 1971.

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Primeiro disco: “Five Leaves Left”, de 1969.

O primeiro álbum foi “Five Leaves Left”, lançado em 1969, quando ele tinha apenas 21 anos. Nessa época, Drake ainda estudava Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, Inglaterra, e a produção não foi muito bem recebida tanto pela crítica quanto pelo público, o que é estranho já que, pelo título (Faltam Cinco Folhas, em português) dá pra ter uma ideia que a maioria das canções falam da natureza, tema em voga nos tempos de florescimento da cultura hippie.

Hoje, o álbum é aclamado como um dos melhores de todos os tempos, constando na lista do livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer. Aliás, os outros dois álbuns dele estão nessa compilação de resenhas, além de constarem em outras listas.

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Segundo disco: “Bryter Layter”, de 1970.

Dizem que, durante as apresentações, Drake ficava quase sempre de cabeça baixa, tipo um shoegaze acústico, por se incomodar com o barulho da plateia. No ano seguinte, a situação de timidez e ostracismo não melhorou muito. A carreira não deslanchava, mesmo que “Bryter Layter”, de 1970, tivesse uma pegada mais rock, com a presença da banda que o acompanhava, o Fairport Convention e um integrante do The Velvet Underground.

Assombrado pela falsa impressão de produzir inutilmente, Nick ainda teve forças para lançar um último álbum, justamente o que se tornaria hit. Gravado à meia-noite em duas sessões de duas horas em outubro de 1971, apenas com Nick e o produtor presentes, “Pink Moon” talvez tenha recebido esse nome pela coloração da lua no caminho aos estúdios.

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Terceiro disco: “Pink Moon”, de 1971.

Com o passar dos anos, o estado do cantor foi piorando, levando a morte na casa dos pais onde morava, em 1974. Apenas depois desse fim trágico, tanto a imprensa especializada descobre a trinca de lançamentos quanto a residência dos pais de Nick começa a receber cartas e visitas de fãs. Mais que isso, um reconhecimento tardio maior veio em meados dos anos 1980, quando a gravadora Island Records lançou a caixa “Fruit Tree”, reunindo os três álbuns de estúdio. A partir daí, grupos e cantores como R.E.M., The Cure, Elton John, Elliot Smith e Renato Russo foram alcançados e influenciados pela arte reclusa, original e tardiamente famosa de Nick Drake.

Esses e outros detalhes são citados no documentário “Nick Drake: A Skin Too Few”, que conta com falas de ex-colegas de vida acadêmica e de gravação dos discos a depoimentos dos pais e da irmã, a atriz Gabrielle Drake.